O Massacre de Realengo e as Testemunhas de Jeová

8 de abril de 2011

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Wellington Menezes

Wellington Menezes

O caso do massacre na escola de Realengo, no Rio de Janeiro, despertou a atenção de todo o mundo recentemente. Muitos se perguntam, naturalmente, o que motivaria uma pessoa a cometer crimes como esses e depois tirar a sua própria vida. No entanto, este pequeno artigo foi preparado simplesmente para esclarecer a algumas pessoas sobre a possibilidade da ligação deste caso com a religião das Testemunhas de Jeová.   De acordo com algumas fontes de notícia disponíveis, o jovem Wellington Menezes de Oliveira, de 24 anos, possuía ligações com as Testemunhas de Jeová por meio de sua família adotiva, e que havia frequentado a religião durante a adolescência. Esta informação parece ser verdadeira, embora não sirva, de fato, como base para a afirmação de que esta religião, em si, possua qualquer ligação com ataques como esses. Ao analisarmos a carta de Wellington (veja aqui), verificamos a ausência de qualquer menção às crenças das Testemunhas de Jeová. Além disso, o jovem não utiliza a terminologia adotada pelas Testemunhas, exceto as palavras “fornicador” e  “adúltero”, comuns à Organização. Este ponto é de interesse, pois a terminologia organizacional é um aspecto bem peculiar nas Testemunhas de Jeová. Por exemplo, em um manuscrito do assassino noticiado dias após a tragédia, ele afirma que precisava arrumar tempo para a escola, as tarefas de casa e para ir à “igreja das Testemunhas de Jeová”. O termo igreja não é utilizado pelas Testemunhas de Jeová atualmente.

Devemos considerar, além do mais, que as crenças religiosas de Wellington destacadas na carta possuem incompatibilidades com as doutrinas atuais das Testemunhas. Veja alguns exemplos:

“Os impuros não poderão me tocar sem usar luvas” — Este regulamento não existe entre as Testemunhas de Jeová. Elas costumam manter contato normal com as pessoas do meio em que vivem, tanto fisicamente como em palavras e gestos. Exceções a isto encontramos apenas nos casos de excomunhão de membros (elas chamam de “desassociação”), onde são cortados os vínculos sociais dos fiéis com os expulsos (a condenação ao ostracismo é a pena máxima entre as Testemunhas de Jeová).

“Sepultado onde minha mãe dorme” — é somente neste ponto doutrinário que Wellington se aproxima das Testemunhas. Elas crêem que a morte é uma inexistência inconsciente semelhante a um sono profundo. A analogia feita por ele entre morte e sono pode ser fruto de um sincretismo da doutrina das Testemunhas com outras influências religiosas desconhecidas.

Testemunhas de Jeová

“Visita de um fiel seguidor de Deus em minha sepultura” — as Testemunhas de Jeová não visitam cemitérios por motivos religiosos. Elas acreditam que a morte é o fim da pessoa, incluindo a sua consciência e pensamentos, por isso consideram irrelevantes tais visitas. Neste aspecto, o jovem se aproxima doutrinariamente aos costumes fúnebres dos católicos romanos.

“Na sua vinda Jesus me desperte para a vida eterna” —  nesta passagem existe um importante ponto de afastamento entre as crenças religiosas do jovem Wellington e as doutrinas oficiais das Testemunhas de Jeová. Ele acredita numa ressurreição futura, na vinda de Jesus; as Testemunhas de Jeová atuais acreditam que esta vinda aconteceu em outubro de 1914, na época da Primeira Guerra Mundial, e que desde aquela época os que morrem vão para o céu instantaneamente, desde que façam parte de um grupo de 144.000 pessoas escolhidas. Os demais mortos, que não fazem parte desses 144.000 escolhidos, ressuscitarão no futuro, mas não durante uma vinda física ou visível de Jesus e sim num paraíso terrestre, após uma guerra de destruição promovida por Deus (Jeová), chamada de Armagedom.

Todos esses aspectos doutrinários são interessantes para se analisar com bastante cautela, pois a tentativa de associação de quaisquer grupos a crimes que chocam a sociedade pode conduzir à publicidade negativa e a perseguições indevidas aos mesmos. Além de todas essas evidências de incompatibilidades entre a carta deixada por Wellington e as crenças das Testemunhas de Jeová, os representantes oficiais da Organização negaram totalmente o envolvimento do mesmo com a Organização, por meio de carta.

Mesmo assim, a dúvida ainda continua — o que levaria um jovem a praticar tais atos?

Embora as respostas sejam incompletas ou insatisfatórias, a evidência mais plausível é a de que o jovem Wellington sofria de problemas mentais. Ao analisarmos a mesma carta, agora sob outra perspectiva, verificamos que existe ali a narração da criação de um mundo ou universo de percepção completamente separado ou desconexo, típico da esquizofrenia. Ele narra na carta a existência de dois mundos bem distintos: o mundo dos puros e o mundo dos impuros. Ele parecia não ver mais o mundo, ou a realidade, como sendo globalizante, universal, ou seja, a ideia de totalidade teria sido perdida. A luva que deveria ser usada pelos “impuros”, para tocá-lo nos preparativos para o sepultamento, servia de ligação entre os dois mundos: e é uma evidência da separação mental feita pelo jovem entre os dois mundos. A menção a um lençol branco, em que deveria ser envolto o seu corpo para sepultamento, traz um misticismo interessante, típico de pessoas que fixaram-se numa ideia e que a defendem ideologicamente, como sendo útil ou eficaz.

Também vale ressaltar que Wellington além de informar a localização desse lençol branco, posteriormente esclarece seus planos sobre o destino de sua casa em Sepetiba, outro bairro na zona oeste do Rio de Janeiro, inclusive utilizando as expressões “bom senso” e “consideração”, demonstrando a capacidade de raciocínio e planejamento. Esta é uma situação possível na esquizofrenia — a formação dos pensamentos confusos concomitante a um raciocínio intacto.

O que é esquizofrenia?

A esquizofrenia é um transtorno psíquico e é caracterizada por uma série de sintomas e comportamentos, que variam desde a  simples falta de motivação, isolamento social e pobreza de discurso a alucinações e delírios mais graves. Não existe reconhecidamente uma causa única para o desenvolvimento da esquizofrenia, embora admita-se entre muitas: o quadro psicológico, o ambiente, o histórico familiar e o uso de substâncias psicoativas.

Embora a esquizofrenia não possua uma cura definitiva atualmente, este transtorno pode ser tratado e controlado. Por isso, a melhor recomendação, tanto para nós mesmos quanto para aqueles com quem nos relacionamos, é a seguinte: ao verificarmos quaisquer alterações na formação de nossos pensamentos, ou a presença de confusão mental ou de ideias um tanto dubitáveis, procuremos ajuda especializada. Devemos trabalhar para a redução do estigma social com respeito aos problemas e tratamentos mentais, pois, uma coisa é fato — o cérebro é um órgão como qualquer um outro: ele pode ficar doente e ele pode ficar curado!

Obs.: As informações sobre as Testemunhas de Jeová disponíveis aqui são resultado de uma pesquisa de mais de 10 anos.

Este artigo tem sido atualizado, com novas informações ou frases, após a data da publicação.

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Relacionado a este assunto, veja também:

O Poder do Sensacionalismo



O Sonho Real

13 de outubro de 2008

Você já sonhou que estava sonhando?

Sonho ou realidade?
Sonho ou realidade?

Isso é bem comum de acontecer. Mas, querendo ou não, esse tipo de experiência nos ajuda a explicar muitas coisas do ponto de vista material. Essa tentativa de explicação pode ser útil no sentido de não tentarmos atribuir todos os fenômenos às coisas espirituais. Mas em que circunstâncias o sonhar com a realidade pode ser útil? Bem, eu escolhi alguns pontos interessantes que são de interesse universal.

Estávamos analisando duas situações intrigantes, contadas por pessoas que têm uma mentalidade sã e que têm tentado dar explicações materialistas aos fatos. Na primeira situação, contou-se que um homem estava deitado, preparando-se para dormir, de bruços para baixo. E aconteceu que de repente ele sentiu uma mão (ou força) lhe pressionando as costas contra a cama, como numa tentativa de sufocá-lo. Bem, de acordo com a narração, o homem conseguiu sentar-se, ofegante, e só aí percebeu que a cama realmente havia se balançado com a experiência, dando a entender que houve algo físico naquela situação. Que explicação se poderia dar neste caso? 

Uma coisa é certa e que deve nos servir de pressuposto nas explicações científicas da realidade: se existe um mundo espiritual (e eu creio timidamente que sim) ele não entra em contato conosco de formas tão simplórias. É claro que muitas coisas neste vasto Universo não possuem explicações razoáveis. Mas, embora nem tudo seja suficiente, precisamos adentrar mais profundamente no materialismo antes de nos aventurarmos nas explicações mitológicas e fictícias do espiritismo popular! Muitos fenômenos (para não dizer todos) podem ser explicados à luz da ciência. A interpretação de tais explicações muito dependerá da concepção ideológica das pessoas que a recebem. Às vezes um mesmo fato pode ser interpretado de formas completamente variadas por pessoas com visões diferentes, embora o dado fenômeno seja a priori à concepção do observador. Quem tem esquizofrênia o fenômeno é a própria interpretação!

O exemplo dado acima pode ser explicado por embasamento na psicologia, psiquiatria ou por qualquer conhecimento ligado à neuro-ciência.

 O que ocorre é que o nosso sono possui vários estágios de profundidade e que tais estágios não são completamente entendidos atualmente. Ora, as experiências ou fenômenos ocorridos por alguém durante um momento de sonolência podem ser explicados por se aderir à tal conhecimento dos estágios do sono. O momento inicial de sonolência é muito frágil, sendo que o indivíduo pode dar um pulo na cadeira a qualquer momento, pensando que vai cair. Isso já aconteceu com você? Alguns interpretam que isso acontece devido a algum espírito que passa próximo à pessoa. Será verdade?

Nesse estágio de sonolência inicial, que também pode ocorrer um pouco antes do despertamento por ser um estágio e não especificamente um momento, é comum acontecimentos circundantes da realidade penetrarem na cena visualizada no sono. Ou seja, se um indivíduo estiver sonhando enquanto estiver neste estágio de sono, pode ser que as imagens ou sons do sonho sejam as mesmas que estejam presentes no local em que se encontra. Quem nunca sonhou que estava ouvindo uma música e quando acordou a mesma música estava tocando? Ora, mesmo neste estágio de sono a pessoa realmente já está dormindo, é evidente. Isso é importante para explicar aqueles sonhos em que a pessoa visualiza o local em que está, mas não consegue se mover. Neste caso, parece que a pessoa tenta sair do sonho mas não consegue, porque, mesmo vendo a realidade, está dormindo. Isso causa uma sensação muito estranha em quem a vivencia.

 No nosso primeiro caso dado no início, a experiência parece revelar alguém no estágio inicial de sonolência. É provável que o rapaz estivesse no limiar do sono, exatamente naquele estágio entre o acordado e o dormindo! O fato dele realmente ter sentido algo físico pressionando as costas revela que o corpo não estava imóvel, mas sim ainda reagindo de forma bastante ativa com a realidade. A falta de ar pode ser atribuída a posição em que estava deitado, isto é, de bruços. Num dado momento a corrente de ar pode ter sido interrompida aos pulmões, sendo interpretado pelo cérebro no “sonho” como um sufocamento causado por alguém. O corpo reage, provocando impulsos nervosos. A pessoa pula da cama, nervosa. O fator religioso dá umas pinceladas ideológicas. O fenômeno está ocorrido!

 O segundo caso ou experiência que precisamos narrar aqui também está inteiramente ligado às neuro-ciências. Um rapaz sentou-se no sofá após o almoço para descansar um pouco. Ele tenta relaxar, de repente começa a ouvir uma música estranha como que se aproximando… O som é peculiar, inexplicável, diz ele. O corpo tenta mover-se, mas nada consegue. O rapaz tenta chamar por alguém, mas não há fala acessível. E o som se aproxima cada vez mais. Até que o rapaz se lembra de Jesus Cristo e volta seus pensamentos para ele. O crescente som desaparece e o corpo do rapaz é liberado novamente. Que experiência “espiritual”!

O meu amigo que passou por essa experiência fala um pouco sobre o tipo de música ouvida, mesmo não sabendo realmente como defini-la. Ele diz que a letra era de alguma forma incognoscível cantada por meio de instrumentos musicais! Os instrumentos cantavam a própria música e o som saia ao mesmo tempo, como se fosse um coral de instrumentos. Isso não parece possuir lógica interpretável. O interessante nisso tudo é como coisas completamente sem nexo podem receber um significado surpreendente enquanto sonhamos!

É claro que o acontecido narrado acima não pode ser interpretado de forma homogênea por todos. Os fatores ideológicos atribuem várias possíveis explicações aos fenômenos, como já comentado. Mas nós, comprometidos com o materialismo, devemos ter como tentativas de explicação primárias as que estejam ligadas à própria condição do cérebro ou da mente humana.

 Este último caso também pode ser atribuído a nossa premissa das experiências decorridas do estágio limiar do sono humano. Como sabemos, o rapaz havia acabado de almoçar, o que provoca um estágio de sonolência natural no corpo. Ao sentar-se no sofá, é provável que o corpo tenha iniciado um leve sono, quase imperceptível. É justamente nesse “sono imperceptível” que as coisas acontecem! A pessoa ao mesmo tempo dorme e vê a realidade. Mesmo vendo a realidade com os olhos, ela está dormindo, o que explica a falta de controle sobre o corpo. Os membros ficam paralizados, inclusive a voz, que é sufocada! O corpo procura de todas as formas sair daquela situação: seja por um impulso nervoso, um pulo no sofá ou por um grito, seja lá pelo que for —  a pessoa consegue despertar! No caso desse rapaz, o que o despertou foi pensar em Jesus Cristo. É evidente que o fator religioso foi muito importante neste caso. O cérebro deve ter reagido diante do pensamento religioso, causando impulsos suficientes para o despertamento. Ao acordar, é normal que se atribua todo tipo de descargas ideológicas a tais experiências!

Tudo está na sua mente!

Tudo está na sua mente!

Bem, a conclusão que podemos chegar aqui é a seguinte: que existem realmente explicações plausíveis para muitas das nossas experiências do dia-a-dia. Não devemos, embora tenhamos liberdade para fazê-lo, atribuir todos os fenômenos ao mundo espiritual. O sono, quando num estágio inicial, pode ser confundido com um “sonho real”. Esse princípio pode se encaixar em todos os dados fenômenos, desde uma mesa branca do espiritismo “científico” a um centro de macumba, ou de gritos na Igreja Universal a um transe na Igreja Católica Romana. Tudo está na sua mente. Você acredita?